Simplicidade das Coisas

Eu gostaria de reparar na simplicidade das coisas

Ser um pouco livre para reparar nos pequenos detalhes da vida

Mas há muito tempo não tenho

Tempo

O sol nasce, o chuveiro, o café fervente e o engarrafamento

Trabalho, elevador, documentos, computador ligado e digitar

Pausa para bajular o chefe

Digitar, digitar, computador desligado e elevador

Engarrafamento, casa, computador ligado e digitar

De tanto digitar cheguei aqui

E se eu não precisasse seguir um padrão?

E se eu pudesse ter tempo?

Reparar que há mais no mundo

Mas o tempo sempre acaba

O sol nasce, o chuveiro, o café fervente e o engarrafamento

Trabalho, elevador, documentos, computador ligado e digitar

Pausa para bajular o chefe

Digitar, digitar, computador desligado e elevador

Engarrafamento, casa, computador ligado e digitar

Por mais que tentemos fugir da normalidade

Faz parte de ser quem somos

Todos um dia já tentaram

Mas sempre voltamos, escravos

Escravos do padrão que há em nós

O sol nasce, o chuveiro, o café fervente e o engarrafamento

Trabalho, elevador, documentos, computador ligado e digitar

Pausa para bajular o chefe

Digitar, digitar, computador desligado e elevador

Engarrafamento, casa, computador ligado e digitar

Há quem diga que vive com suas próprias regras

Há, loucos, que dizem viver sem padrão

Eu rio da ingenuidade de quem pensa assim

Rio por que esses vivem

E viver, merda, em si já é um padrão

O sol nasce, o chuveiro, o café fervente e o engarrafamento

Trabalho, elevador, documentos, computador ligado e digitar

Pausa para bajular o chefe

Digitar, digitar, computador desligado e elevador

Engarrafamento, casa, computador ligado e digitar

Mesmo que a gente consiga sair do padrão

Quem garante que teremos tempo?

Tempo para amar, para abraçar e cuidar

Tempo para sermos nós mesmos

Tempo para sermos alguém

O sol nasce, o chuveiro, o café fervente e o engarrafamento

Trabalho, elevador, documentos, computador ligado e digitar

Pausa para bajular o chefe

Digitar, digitar, computador desligado e elevador

Engarrafamento, casa, computador ligado e digitar

E se não for o tempo nosso grande problema

E se formos nós mesmos?

Meros humanos, medrosos

Que vive a culpar o tempo e o padrão

E não vive, sobrevive

O sol nasce, mas dessa vez vai ser diferente

Diferente por que quero viver

Quero dizer eu tenho tempo para ser alguém

Quero criar dúvidas, dilemas, quero contra dizer

Quero que as pessoas parem e observem, pensem

Quero que elas tenham opiniões, que vivam

Não que sejam marionetes

Quero trazer esperança para um mundo perdido

Um mundo de ignorantes

Basta achar tempo